Estúdio fotográfico - a Teoria da Destilação


Aí vai uma dica que parece maluca mas é valiosa.

Ao fazer ensaios fotográficos de pessoas, é importante aprender a identificar os diferentes momentos para tirar o máximo de proveito e não estressar-se. Pessoas têm sentimentos e vontades, e, como todo fotógrafo bem sabe, seu bem-estar e conforto é essencial para um bom resultado final.

Não se preocupe, não estou pedindo para servir bebidas destiladas aos seus modelos (ou a si mesmo) antes da sessão. A ideia da analogia vem do processo de fabricação das bebidas.


Os antigos artesãos que fabricavam cachaça com alambiques de cobre em seus ranchos tinham uma técnica de separação das diferentes frações destiladas do fermentado de cana. Acendiam seu destilador, aguardavam a fervura do fermentado, e observavam a pinga "pingar" da ponta da serpentina. Mas nem tudo que pinga é pinga boa. Esses valorosos homens aguardavam algum tempo até colocarem sob o bico o recipiente que iria abrigar a cachaça. A primeira parte do destilado, chamada "cabeça", era, assim, desprezada, pois não servia para consumo por ser potencialmente venenosa. Da mesma maneira, o final da destilação, a "cauda", também era desprezada. Só o "corpo" é engarrafado e tem valor como bebida.

Mas, como isso tem a ver com  a fotografia de retratos?

Tem a ver na medida em que o fotógrafo tem de procurar ter a paciência e a sabedoria do alambiqueiro. Não se preocupe se o começo do ensaio parece forçado. Os primeiros dez ou quinze minutos geralmente rendem poucas fotos aproveitáveis, quando não são desprezíveis. Isso acontece porque aquele mini-relacionamento fotógrafo-modelo ainda não se estabeleceu plenamente. Mesmo que o fotografado seja amigo de longa data do fotógrafo, ainda assim essa é a dinâmica. Naturalmente, dependendo da pessoa, a fração de "cabeça", ou seja, o tempo de adaptação à condição de fotografado, pode variar.

Ainda como no caso do alambique, existe um momento em que o trabalho já não rende bem, a "fração de cauda". Isso é muito facilmente percebido quando se fotografam crianças, que normalmente não fazem muita questão de esconder, ao final do ensaio, que já não estão tão dispostas. Ficar de pé em frente a flashes cansa tanto o corpo quanto os olhos, então é bom prestar atenção para tentar identificar quando seu modelo já não está tão à vontade. Nesse momento, vale muito mais a pena fazer um intervalo para água e café do que ficar insistindo para terminar logo a sessão.

Uma forma de aproveitar seu ensaio ao máximo é tentar estabelecer uma boa relação com o modelo desde antes de começar a clicar. No último ensaio que fiz, fiquei conversando com a modelo por pelo menos meia hora antes de levá-la para adiante das luzes. Não sou aquele tipo de pessoa que faz amigos com tanta facilidade, mas fiz o possível para facilitar meu trabalho. E, se quiser que o modelo demore mais a se cansar, deixe o ambiente o mais confortável possível, lançando mão de um ar-condicionado ou ventiladores e fácil acesso até a água, no mínimo.

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